O retorno do consumo de LPs revela um fenômeno interessante e um nicho de mercado bem atendido pela capital curitibana
Principalmente nos últimos 10 anos o retorno do consumo de música através dos discos de vinil representa o crescimento de um mercado cada vez mais consolidado. As décadas de 60,70 e 80 foram os tempos áureos dos bolachões, que passaram a perder espaço para as novas tecnologias. Agora o que se observa é uma intensa movimentação desse mercado em feiras, lojas especializadas, comércio online e etc. Nesse quesito, a grande Curitiba está bem servida.
O surgimento do CD e, posteriormente, a difusão pela internet do áudio comprimido em mp3, representaram a quase extinção dos LPs. A década de 90 protagonizou um declínio da produção ano a ano, com prensagens cada vez menores e chegando a tiragens ínfimas de 200 ou 300 cópias.
É fato que os serviços de streaming atingem milhões de pessoas e crescem a cada dia, mas nos tempos da instantaneidade e da imaterialidade da Internet, o vinil volta a encontrar seu espaço de modo surpreendente.
Segundo Marcos Duarte, 46, dono da Joaquim Livros e Discos, é um fenômeno curioso e difícil de ser entendido. Seus seis anos no ramo levaram a desenvolver basicamente dois perfis de clientes: o colecionador, geralmente um consumidor mais antigo do LP, que nunca deixou de comprar; e um público jovem que está se formando agora.

Foto: Gabriel Muxfeldt
São mais de 3500 discos na loja, sendo 400 compactos.
Duarte afirma que hoje, quase toda sua clientela se encaixa em um desses dois grupos. “Está se formando um público mais jovem, entre 18 e 25 anos. Essa galera geralmente descobre discos ou vitrolas guardados em casa (quando há uma cultura musical na família), acha legal, passa a escutar e colecionar. É uma moda que está voltando”.
Tanto está voltando que Curitiba é uma referência no comércio nacional de discos. No mês de fevereiro foi realizada a primeira “Feira de Discos da Boca Maldita”, que reuniu 20 expositores e disponibilizou mais de 20.000 títulos. Em março, foi a vez da 21ª edição da “Feira de Vinil do Canal da Música” que trouxe 54 expositores, de São Paulo, Paraná e Santa Catarina com a oferta de mais de 35.000 LPs.
Segundo o dono da Sonic Discos, Horacio de Bonis, 50, que é um dos organizadores da Feira da Boca Maldita, Curitiba possui cerca de 15 lojas especializadas (sem contar os sebos que também trabalham com o produto). Para de Bonis, esse “retorno do vinil” é muito influenciado por alguns agentes como o cinema, a moda e a mídia. “O desafio é saber se esse consumidor da moda de fato vai se tornar um colecionador. O público antigo não é suficiente para manter o mercado e é por isso que vendo discos de todos os tipos e valores. Na minha loja por exemplo, os preços vão de R$25,00 a R$500,00”.
“O preço é um empecilho. Algumas vezes os discos são supervalorizados, com preços que passam até de mil reais, aí eu prefiro ouvir na internet. Mas quando vai até mais ou menos uns R$100 eu acho que vale o investimento. Se bem cuidados, podem durar mais 50 ou 100 anos e nossos filhos e netos poderão ouvir. O vinil sempre será uma ótima companhia” afirmou Christopher Goettems, estudante de engenharia civil de 23 anos.